"Aliado
aos materiais com altíssima
resistência à erosão
por cavitação,
lançados
no mercado no início da década
de
1990, calcula-se que com o novo
processo
de soldagem o intervalo entre
reparos
aumente em 50%, mas em
alguns
casos pode chegar a 100%."
Fernando
Ribas, da Tractebel
fribas@tractebelenergia.com.br
Depoimento
Cavitação: formação
de bolhas de
vapor
ou de gás em líquido
por
efeito
de forças de natureza
mecânica.
Nas pás de uma turbina
hidráulica,
a cavitação provoca
erosão.
"Há muitas
vantagens no processo.
O
uso da eletrônica analógica
foi
reduzido
drasticamente. Com a
introdução
de teclados remotos,
ficou
mais fácil a comunicação
com
o
usuário."
Professor
Jair Carlos Dutra,
Supervisor do LABSOLDA
|
Softwares
e equipamentos especiais de
soldagem permitem recuperar
com mais qualidade e menor
tempo as pás de turbinas
de usinas hidrelétricas
Na
geração de eletricidade
em usinas hidroelétricas
tudo é gigantesco, inclusive
os problemas. Um dos que mais
causam perda de faturamento é o
desgaste das turbinas, pela chamada
erosão por cavitação.
Ela é provocada pela passagem
de água pelas pás
das turbinas. As paradas para
este tipo de manutenção
costumam durar um mês.
A troca de turbinas é,
na maior parte das vezes, economicamente
inviável. A maneira de
resolver o problema, ao menos
parcialmente, é manter
o processo de erosão sob
controle, o que é feito
através da reposição
do material arrancado, utilizando
processos de soldagem. Em outras
palavras, anexa-se material às
pás para tentar devolver-lhes
o formato original, enchendo
buracos e reconstituindo contornos.
São necessárias
quantidades muito grandes de
ligas especiais de aço
inoxidável para a recuperação
de uma turbina. Essa quantidade
pode chegar a uma tonelada. A
operação envolve
a retirada total de água
do setor, construção
de andaimes e contratação
de numerosas equipes.
A TRACTEBEL,
empresa que atua em geração
de energia na Região Sul,
sofre com paradas de 15 a 30 dias
para este tipo de manutenção
em suas usinas maiores. Para minimizar
este trabalho, procurou a Universidade
Federal de Santa Catarina e chegou
ao LABSOLDA / Instituto de Mecatrônica,
do Departamento de Engenharia Mecânica.
Lá foi desenvolvido um novo
processo e um equipamento de soldagem
que garantiu redução
de defeitos, melhor qualidade da
solda e um sensível aumento
de produtividade.
No
desenvolvimento foram criados softwares
e equipamentos de soldagem, pois
os equipamentos industriais não
ofereciam as condições
necessárias à pesquisa,
que começou em 1994. A experiência
durou um ano. A implantação
industrial se deu em 1996, e em 1998
a inovação começou
a ser vendida. A TRACTEBEL comprou
quatro máquinas de soldagem.
Todo o projeto envolveu gastos de
110 mil reais. A equipe incluiu um
doutor, quatro mestrandos, dois técnicos
de nível médio e oito
bolsistas.
A
soldagem de turbinas é um
processo naturalmente complicado
porque a erosão ocorre em
posições desfavoráveis,
tanto do ponto de vista do conforto
do soldador, quanto de adesão
do material fundido. Além
disso, o desgaste é muito
irregular. O tempo, obviamente, tem
trazido evoluções.
Antigamente, a soldagem era feita
com o processo eletrodo revestido.
Hoje, há processos bem mais
eficientes, como o chamado arame
tubular. Apesar do custo mais alto,
o seu uso resulta, tanto em melhor
acabamento, quanto em resistência à cavitação
superior. Mas, há poucas informações
sobre a melhor forma de depositá-lo
nas turbinas. Assim, a qualificação
do procedimento de soldagem torna-se
um ponto crítico do trabalho.
Em alguns casos, a resistência à cavitação
do material reposto pode ficar muito
abaixo das especificações.
Os problemas são surgimento
de porosidades e deficiências
de homogeneidade.
O
processo desenvolvido no Labsolda,
que foi chamado de pulsação
térmica, uniu
as principais características
de dois tipos de soldagem. Do processo
chamado MIG/MAG veio a capacidade
de controle de transferência
metálica. Este controle propicia
minimização de salpicagem
e depósito com melhor molhabilidade,
garantindo melhor acabamento e diminuindo
a falta de fusão. Do processo
chamado TIG Pulsado, buscou-se uma
melhor sustentação
do banho em soldagens fora da posição
plana. A operação é realizada
através de controle remoto
microprocessado com teclado e display
de cristal líquido.
Para
a TRACTEBEL, o sistema representou
menos dias parados para a manutenção,
já que o processo é mais
rápido, e as paradas tendem
a se tornar menos constantes, pois
a qualidade da solda melhorou. "Aliando
o fato da utilização
de material com altíssima
resistência à erosão
por cavitação lançado
no mercado no início da década
de 1990, calcula-se que o intervalo
entre reparos aumente em mais de
30%, mas em alguns casos pode chegar
a 50%", diz o engenheiro Fernando
Ribas, da TRACTEBEL.
Um
salto tecnológico maior ainda
está por vir. O Labsolda está desenvolvendo
um novo projeto em parceria com a
Companhia Paranaense de Energia Elétrica
(Copel). O objetivo é robotizar
o processo. Entre as vantagens da
automatização total
está a preservação
da forma original da pá. O
equipamento medirá e controlará a
forma que vai sendo obtida, e indicará as
alterações necessárias
para que seja recomposta a geometria
ideal da pá. Além de
elevar o tempo de operação
entre reparos, cálculos apontam
para reduções de 20%
no consumo de arame, 40% no tempo
de soldagem e 50% do custo total.
O investimento no desenvolvimento
chega a cerca de 1 milhão
de reais. |